Tigrão com os bagrinhos, tchutchuca com os tubarões: as conexões de Fux com o bolsonarismo
O ministro já julgou casos de empresas e entidades que tiveram seu filho como advogado, inclusive de quem doou para a campanha de Flávio Bolsonaro
O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF) - 10 de setembro de 2025 (Foto: Rosinei Coutinho/STF)
Depois do voto vergonhoso desta sexta-feira, Luiz Fux tornou-se um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. Muito se especula sobre os motivos de ter se comportado como um “bolsonarista de toga”. Teria buscado agradar os Estados Unidos, seguindo a orientação do senador extremista Marcos do Val, com quem se encontrou dias antes da sessão da Primeira Turma? Ou estaria mirando influência na nomeação dos próximos três ministros do STF, caso um extremista vença as eleições do ano que vem?
Essas hipóteses fazem sentido, mas parecem pouco para alguém com a experiência e as conexões de Fux fora da corte. O ministro tem ligações indiretas com financiadores do bolsonarismo. Em 2019, a revista Carta Capital noticiou que a campanha ao Senado de Flávio Bolsonaro, filho do então presidente, recebeu recursos de clientes do escritório de advocacia de Rodrigo Fux, filho do ministro.
Informou a revista: “Um setor patronal financiador da eleição ao Senado de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), o primogênito do presidente, está na lista de clientes do advogado Rodrigo Fux, um dos filhos do juiz do STF. Rodrigo é advogado do Conselho Nacional de Praticagem (Conapra), que defende os práticos, categoria que atua como guia para navios em manobras portuárias.”
Na eleição de 2018, Gustavo Martins, presidente do Conapra, doou R$ 10 mil. Evandro Simas Abi Saab, da Praticagem da Barra, e Dhyogo Henryque Scholz dos Santos, da Baía do Marajó Serviços de Praticagem, doaram o mesmo valor. Já Moacyr Antonio Moreira Bezerra, da Federação dos Práticos, contribuiu com R$ 55 mil.
Essas quantias podem parecer pequenas diante do padrão de vida de Flávio Bolsonaro — que comprou uma mansão em Brasília, registrada em cartório por R$ 6 milhões —, mas revelam a proximidade entre o círculo em que Fux transita e o bolsonarismo.
Além disso, o ministro já julgou casos de empresas que tiveram seu filho como advogado, caso da Embraer, a Companhia de Gás do Rio de Janeiro e a Light. Quando questionado sobre possíveis conflitos de interesse, afirmou que se declara suspeito apenas quando o filho tem procuração nos autos. Mas, segundo juristas, essa prática não elimina o risco de favorecimento. Afinal, o advogado pode renunciar à causa quando o processo chega ao STF, mantendo, ainda assim, vínculos informais.
Outro episódio envolvendo a família foi a nomeação de sua filha, Marianna Fux, como desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em 2014. Com apenas 33 anos na época, ela foi incluída na lista tríplice encaminhada ao governador Luiz Fernando Pezão após intensa articulação do pai, como revelou a Folha de S.Paulo.
Quatro dos oito conselheiros da OAB ouvidos pelo jornal confirmaram que receberam ligações de Fux, em que o ministro lembrava que processos de interesse deles poderiam chegar ao Supremo. Marianna acabou escolhida por Pezão, e o episódio gerou forte repercussão. Fux preferiu o silêncio.
No campo empresarial, as conexões de Fux também chamam atenção. Em um evento da XP, em 2019, foi efusivamente aplaudido ao declarar que, como futuro presidente do STF, apoiaria as reformas propostas pelo governo Bolsonaro, inclusive a tributária e a da Previdência.
“Ela tem de passar”, disse, referindo-se à reforma. “As pessoas têm que ter amor ao Brasil, amor à coisa pública, não fazer oposição que seja prejudicial ao País”, concluiu, sob aplausos da plateia.
O histórico revela uma postura de proximidade com os setores mais fortes da sociedade. No caso dos atos de 8 de janeiro, por exemplo, foi punitivista com os “bagrinhos” e garantista com os “tubarões”.
Qual seria, então, sua motivação no processo da trama golpista? A consciência de classe pode explicar em parte, mas talvez não seja suficiente. O caminho mais eficiente para compreender é seguir o dinheiro.
Joaquim de Carvalho
Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: [email protected]
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