A Pandemia, o Coronavírus e a educação

No caso da educação, os prejuízos poderiam ser muito menores, caso o Conselho Estadual de Educação não fosse tão irresponsável como tem sido

Francisco Xavier Gomes
Publicada em 18 de abril de 2020 às 09:41
A Pandemia, o Coronavírus e a educação

A população de nosso querido estado de Rondônia tem vivido momentos realmente muito difíceis, nos últimos vinte ou trinta dias, com o surgimento desta complexa doença provocada pelo coronavírus e também pelas consequências que essa calamidade toda traz aos estados e municípios. Algumas dessas consequências são de natureza secundária e não possuem relação direta com a saúde, mas afetam diretamente a população, em virtude das circunstâncias. Entre essas situações, está o setor de educação e a falta de compromisso de políticos, governantes, representantes de instituições e até mesmo diversos outros setores da sociedade. No caso da educação, os prejuízos poderiam ser muito menores, caso o Conselho Estadual de Educação não fosse tão irresponsável como tem sido. Infelizmente, dezenas de milhares de estudantes em Rondônia, em todos os municípios, serão prejudicados, pela negligência, omissão e falta de compromisso de muitas autoridades que têm a obrigação de zelar pela educação...

No decorrer desta semana, o Conselho Estadual de Educação apresentou a Resolução 1.253/20-CEE/RO, normatizando a precarização do ensino em Rondônia e colocando em jogo todo o trabalho que foi feito até hoje, embora ainda seja necessário melhorar muita coisa. O CEE acaba de instituir o ensino a distância em todos os níveis do Ensino Básico. A decisão do Conselho Estadual de Educação é, no mínimo, irresponsável, porque sugere o ensino a distância para o ensino infantil e fundamental, faixas etárias nas quais as crianças estão sem a devida maturidade para assimilar esse modelo de ensino. Claro que os defensores da teoria do faz-de-conta irão bater o pé e dizer que não há problema; que o importante é contabilizar qualquer coisa como aula, para contar nas “lives” e postagens do governo de Rondônia; que tudo está resolvido. O curioso nisso tudo é que as autoridades que possuem a obrigação de fiscalizar e o dever de zelar por uma educação de qualidade estão assistindo a tudo caladinhas e de braços cruzados. E por que as autoridades e órgãos de fiscalização batem palmas para a resolução do CEE? Pela mesma razão que batem palmas para o desastroso e excludente processo de militarização de escolas: os filhos ou netos de deputados, promotores, juízes, desembargadores, diretores de escolas e membros do Conselho Estadual de Educação, com raríssimas exceções, muito raras mesmo, não estudam em escolas públicas.

No Brasil, existe uma tradição muito antiga e que é cumprida à risca em Rondônia: aquilo que não presta, que não serve, que não tem nenhuma qualidade é oferecido pelos governantes, e demais autoridades, aos pobres e aos filhos dos pobres. Aquilo que é bom pertence sempre aos ricos. E,  muitas vezes, aquilo que não presta é empurrado, goela abaixo, dos pobres, com a participação e o apoio de muitos pobres que praticam a vassalagem, em troca de cargos ou outras benesses individuais e efêmeras, quando não voláteis... Uma outra discussão que precisa ser trazida à baila é que o uso de ferramentas tecnológicas é absolutamente necessário no processo de ensino e todos os professores de Rondônia utilizam as mais diversas ferramentas. Todavia, o uso de tecnologias em sala de aula,  e com a participação efetiva dos professores, não pode ser confundido com o ensino a distância, normatizado pelo Conselho Estadual de Educação, sem que haja nenhuma discussão com a sociedade e sem nenhuma necessidade. As aulas foram suspensas em 17 de março. Hoje é 17 de abril.   Neste período, tivemos 04 sábados e 04 domingos.  Além disso, há o decreto do governo de Rondônia estabelecendo que os 15 dias de férias de julho estão incluídos no período de suspensão das aulas. Como o momento requer,  certamente os professores vão negociar os dias de férias, para não prejudicar os alunos. Assim, os alunos de Rondônia foram prejudicados em 07 dias letivos, até hoje. Qual a necessidade de tanta precipitação em criar o ensino a distância, numa discussão que envolveu apenas o secretário da educação e o presidente do Conselho Estadual de Educação??? (Porque isso não pode ter sido a decisão de um Conselho de Educação). Nem mesmo os dois filósofos da honestidade foram consultados. Quem vive em Rondônia sabe que a educação já teve greves de 60 dias; 90 dias; e até mais do que isso, sem que o ano letivo fosse comprometido uma única vez...

É claro que o secretário de educação vai aparecer em entrevistas e redes sociais, tentando explicar marcas de batom em cueca, como tem sido a rotina desta Seduc. Entretanto, não existe uma explicação plausível para tamanha estupidez. Esta decisão do CEE, combinada com a problemática de saúde pública, criada pelo coronavírus,  misturada à falta de responsabilidade do secretário de educação e do governo de Rondônia, certamente produzirão muito mais prejuízos aos estudantes de Rondônia do que a própria pandemia... Tenho dito!!!!


FRANCISCO XAVIER GOMES

Professor da rede Estadual e Articulista

Comentários

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    Adileide 19/04/2020

    Li o artigo e não concordo com tudo que o autor critica. De início, pergunto: Se não fosse a oferta de ensino a distância, qual outro formato de ensino o governo estadual poderia oferecer a essas crianças, diante da circunstância? Segundo, a medida é do governo federal, não só o estado de Rondônia aderiu, como todo o país, tanto na rede pública quanto privada. Portanto, caro professor Francisco Xavier, acredito que tens que refletir sobre esses fatos, diretamente ligados à sua crítica e para creditar a sua fala, apresente soluções, também!

  • 2
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    Altemir Roque 19/04/2020

    Não devemos esquecer que a resolução do Conselho estadual de educação de Rondônia apenas seguiu a resolução do Conselho Nacional de educação e a medida provisória do governo. Apesar dos resultados serem ruins, principalmente para o ensino fundamental, a norma estadual está em simetria com a federal.

  • 3
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    Solange Aparecida do Bonfim 18/04/2020

    Eu descordo do artigo ,nao é faz de conta porque eu acredito que nem um pai que presa pela a saude do seu filho jamas vai aceitar que o mesmo vá a escola nesse tempo de pandemia ,porque é melhor o filho estudando a distacia e de forma simples d que seu filho indo a escola e depois o filho morto ou quaquer de sua casa contaminado.Este é um tempo diferente e devemos respeitar o momento.Eu nao fui a escola na infancia e aprendir em casa o alfabeto so pude estudar depois de ja tinha quase 9 anos nao tinha escola naquela epoca entao quando entrei pra escola tive objetivo nada poderar me empedir de estudar ,e nem todas as dificuldades e a demora para ter uma escola pra mim estudar tirou meu foco me formei depois aos 34 anos em tecnico de Enfermagem em Administraçao de Empresas,anos depois em Matematica e agora Letras e Ingles nada pode ser dificil ser porem temos objetivos e é por isso que nao concordo com o artigo que defende que a educacao em tempo atual nao se pode a educacao infantil a distancia ,os pais devem tambem ajudar em casa seus filhos porque isso salvara a todos.

  • 4
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    Waldilene 18/04/2020

    Pio que isso não é só na rede pública que está acontecendo, nas redes privadas também infelizmente, eu particularmente nunca concordei com essa ideia, pois acho que ensino a distância deve ser adotado a partir do ensino médio.

  • 5
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    Silvia 18/04/2020

    As insuficiência de desempenho é de tamanha monta da SEDUC concomitante com o CEE, o desprovimento da ciêntificidade nas ações colegiadas desta duas instituições produz a discrepancia da qualidade de ensino preconizado pena LDB, outrossim o secretário de "estado da educação" no seu pronunciamento fala em várias plataformas de EAD sugerindo vários métodos, ferindo o P.P.P. onde cada escola tem uma concepção pedagógica, escolhido largamente pelos professores, técnicos, supervisores, orientadores e comunidade escolar. A desisão da resolução do CEE, deixa dúvidas quando à ciêntificidade metodológica, didática pedagógica da plataforma EAD oferecido pelo "aparelho ideológico de estado", tudo oferecido até hoje via EAD em Rondônia não passou do caráter experimental desta modalidade de ensino, cerca de meses atrás proibiam os alunos à entrarem em sala de aulas com seus telefones celulares, pois incomodava às aulas presenciais, de uma hora para outra sugerem a utilização desta ferramenta ? O conceito foi largamente "universalizado" neste momento de pamdamia pela aceitação desta ferramenta. ¿ Em que momento escolar foi discutido democraticamente esta variável pelo conselho escolar ? ¿ Quem possui está ferramenta ? Qual família de uma escola periférica tem internet ? Neste quesito desta desisão institucional [ o erro não é fruto do engano ] por desconhecimento da realidade social dos nossos alunos e escolas [...]. O lema do C.E.E era fazer visitas as escolas em todo Estado, para aproximar da realidade das escolas e alunos, neste instante às descisões tomadas distância mais o discurso da práxis pedagógica, metodológica e didática ofertada pelo aparelho ideológico da SEDUC [...]. É lamentável o desprovimento desta resolução em uma audiência pública escolar à nível de ESTADO !!!

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    Silvia 18/04/2020

    As insuficiência de desempenho é de tamanha monta da SEDUC concomitante com o CEE, o desprovimento da ciêntificidade nas ações colegiadas desta duas instituições produz o discrepancia da qualidade de ensino preconizado pena LDB, outrossim o secretário de "estado da educação" no seu pronunciamento fala em várias plataformas de EAD sugerindo vários métodos, ferindo o P.P.P. onde cada escola tem uma concepção pedagógica, escolhido largamente pelos professores, técnicos, supervisores, orientadores e comunidade escolar. A desisão da resolução do CEE, deixa dúvidas quando à ciêntificidade metodológica, didática pedagógica da plataforma EAD oferecido pelo "aparelho ideológico de estado", tudo oferecido até hoje via EAD em Rondônia não passou do caráter experimental desta modalidade de ensino, cerca de meses atrás proibiam os alunos à entrarem em sala de aulas com seus telefones celulares, pois incomodava às aulas presenciais, de uma hora para outra sugerem a utilização desta ferramenta ? O conceito foi largamente "universalizado" neste momento de pamdamia pela aceitação desta ferramenta. ¿ Em que momento escolar foi discutido democraticamente esta variável pelo conselho escolar ? ¿ Quem possui está ferramenta ? Qual família de uma escola periférica tem internet ? Neste quesito desta desisão institucional [ o erro não é fruto do engano ] por desconhecimento da realidade social dos nossos alunos e escolas [...]. O lema do C.E.E era fazer visitas as escolas em todo Estado, para aproximar da realidade das escolas e alunos, neste instante às descisões tomadas distância mais o discurso da práxis pedagógica, metodológica e didática ofertada pelo aparelho ideológico da SEDUC [...]. É lamentável o desprovimento deste resolução em uma audiência pública escolar à nível de ESTADO !!!

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    Maria das Graças Lemos 18/04/2020

    Concordo plenamente, enfia goela abaixo para nos educadores. alunos e pais, sem nos consultar, não vai ter resultado, muitos não tem nem celular, alguns pais avós nem sabe manusear o aparelho, acho que depois resolveria esse problema de aprendizagem, se com o professor orintando já é dificil imagina sem, para nos educadores é um desafio, teremos que aprenfer também.

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