A saída é dar voz à cidadania

A maioria dos cidadãos comuns que votam, certamente, não está atrelada e nenhum dos lados que se engalfinham na arena política – repudiando-a, inclusive.

Sid Orleans
Publicada em 07 de maio de 2019 às 10:58
A saída é dar voz à cidadania

As eleições de 2018 produziu um fenômeno nocivo ao ambiente político nacional, que se replica nos estados e, certamente, vai ecoar nas eleições municipais de 2020. A polarização política no Brasil, diferente daquela que ocorre nos Estados Unidos - em que é civilizada a convivência com o outro, mesmo que as diferenças sejam intransponíveis - caminhou numa direção em que ganha o lado que grita mais alto, ou o lado que produz mais fake news ou, o que parece predominar, o lado que destila mais ódio em direção ao outro. Não há, de um lado ou do outro, nenhum interesse em debater propostas, sugerir saídas, propor ajustes ou aglutinar forças para intermediar demandas ou mitigar conflitos. O clima no ambiente político é de tal animosidade que limita a participação de qualquer cidadão no debate, seja pelo receio de perseguição que sofrerá se a sua manifestação for entendida como favorável a um lado, seja pela falta de espaço para expor ideias que, efetivamente, eleve o nível do debate político.

Sem entrar no mérito da necessidade de tal decisão política, ou qual o lado detém a razão (sob o ponto de vista de civilidade política, os dois lados estão mais errados do que certos), receio que as eleições de 2020, sejam contaminadas pelo espírito raivoso que orientou a de 2018. Se assim for, há nisso um agravante perigoso. Explico.

As eleições municipais ocorrem dentro das casas das pessoas, os seus resultados têm efeitos diretos na vida dos cidadãos, envolvem indivíduos que moram nos municípios (os candidatos são locais) e alteram as correlações de forças políticas da localidade, logo mexe com interesses estruturados. Com isso, a polarização ganha capilaridade, alcança a planície e preenche todos os espaços sociais (instituições de toda ordem, residências, ruas, praças, bares, teatros, cinemas, organizações comunitárias) reduzindo as chances de recomposição do tecido social, já esgarçado ao limite.

Não vejo, no horizonte de tempo que nos separa das eleições municipais de 2020, possibilidade de haver um refluxo ou distensão dessa polarização, ou ao menos a necessária qualificação do debate. Ao contrário, a aproximação do pleito vai acirrar ainda mais os embates, pelas razões que apontei no parágrafo anterior.

A municipalização dessa hostilidade política refletirá na qualidade da gestão do próximo prefeito, seja quem for o vencedor. Quando os atuais prefeitos foram eleitos em 2016 não havia, ainda, a situação beligerante ora existente, que deflagrou-se após a eleição presidencial de 2018. As dificuldades políticas/administrativas percebidas no nível federal já são reproduzidas na esfera estadual e, naturalmente, se estenderão à administração municipal.

Diante disso, tenho refletido sobre as possibilidades disponíveis para que os potenciais candidatos à eleição majoritária municipal fujam dessa dicotomia. Embora estar de um lado ou de outro possa, a priori, significar ter voto desse segmento e,  eventualmente, ganhar a eleição, isso não é garantia de gestão exitosa ao longo dos quatro anos de mandato. Ao contrário. O lado perdedor criará todo tipo de embaraço para que o lado vencedor não consiga administrar – vindo o fracasso. Isto só reforça a mística de “cemitério de políticos” que o município de Porto Velho construiu ao longo dos anos.

A morte política é resultado de administração ruim, nada mais.

No entanto, para os cidadãos comuns, uma administração ruim significa quatro anos de sofrimento, de falta de serviços públicos de qualidade, da criação de programas e projetos inclusivos, da melhoria dos já existentes, da garantia e proteção dos direitos, da limitação da participação popular e da transparência, etc..

A maioria dos cidadãos comuns que votam, certamente, não está atrelada e nenhum dos lados que se engalfinham na arena política – repudiando-a, inclusive.

É ai que está, a meu ver, a saída para fugir da armadilha da polarização raivosa existente no ambiente político. Partindo do princípio de quê grande parte das pessoas não está interessada nessa disputa, e até existe uma percepção clara por parte delas de que a polarização é nociva, é possível construir espaços de debates em que a pauta seja a melhoria nas políticas públicas de interesse dos cidadãos de Porto Velho e, assim, blindar o embate político local das vinculações com a explosiva esfera nacional.

Para isso, basta que surjam candidatos que canalizem seus interesses para propostas qualificadas e concretas para enfrentar os problemas históricos que a cidade tem. Quem se habilita?

Winz

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