Armar a população não é a melhor solução!

Com uma arma na mão, a pessoa se sente corajosa e poderosa, e vai acabar provocando mais tragédias

Renata Abreu
Publicada em 20 de fevereiro de 2021 às 19:15
Armar a população não é a melhor solução!

Quem adquire arma de fogo diz que é para defesa pessoal, sob alegação que essa necessidade é fruto do meio social em que vivemos. Respeito, mas não concordo. Para mim, armar a população passa longe de ser a melhor solução. E admito: tenho pavor de armas!

Não faço parte apenas do coro dos descontentes com as recentes medidas do governo federal que facilitam ainda mais o acesso a armas e munições. Eu também engrosso o coro dos preocupadíssimos com as alterações anunciadas, aumentando de quatro para seis a quantidade de armas que uma pessoa pode comprar. E quem tem porte, sair de casa com duas armas. Se já me assusta uma arma na mão, imagine duas mãos armadas na rua e seis dentro de casa! Prá quê tantas armas?

Segundo a PF, no ano passado foram registradas 179.771 novas armas na categoria cidadão, aumento de 91% ante o registrado em 2019 (80.613). Qualquer pessoa que tenha dinheiro para pagar um registro e comprar arma pode ter uma arma. Ou seis, conforme o decreto governamental recentemente divulgado.

Ah, mas para adquirir uma arma de fogo, a pessoa terá de passar por um processo rigoroso, com várias aulas, provas, exames psicológicos, vida pregressa e por aí vai. Depois disso, ela estará preparada emocionalmente para apertar o gatilho em defesa pessoal. Sério isso? Sinceramente, desconfio que mais armas irão parar na criminalidade. Até Jair Bolsonaro, com todo o seu treinamento militar, durante um assalto preferiu, acertadamente, não partir para o confronto e entregou sua pistola Glock 380 para o bandido.

Tem muita gente por aí que é pavio curto, que age impulsivamente e tem dificuldades de controlar a agressividade, pois sua ação é mais rápida do que seu pensamento. Com uma arma na mão, a pessoa se sente corajosa e poderosa, e vai acabar provocando mais tragédias.

Lembro-me de um episódio ocorrido com um conhecido. Ele aguardava vaga para estacionar numa rua, de olho pelo retrovisor num carro em manobra. Quando esse veículo saiu, ele mal teve tempo de engatar a ré e o espaço foi ocupado por outro automóvel. Pegou uma arma no porta-luvas e com ela em punho foi na direção do ‘espertinho’. Chegou a apontar o revólver para o motorista, mas, ao olhar para o banco traseiro, viu uma criança na cadeirinha. Foi um choque. Pôs as mãos na cabeça e começou a chorar. Faltou pouco para que mais uma briga de trânsito terminasse em tragédia por quem tinha uma arma ao alcance.

Assim que os decretos do presidente da República para facilitar o acesso a armas foram anunciados, pensei na violência doméstica. Temos lutado tanto para diminuir os índices de feminicídio, com projetos de lei e novas leis que protejam mais as mulheres e que levem à erradicação do machismo estrutural no país. Muitas mulheres morrem por força de conflitos domésticos. A flexibilização da posse de arma de fogo irá potencializar o risco de mortes se o agressor tiver fácil acesso a um revólver ou pistola.

Pensei também nos suicídios num país que convive com índices crescentes de depressão. Como o suicídio costuma ser um ato impulsivo, o meio estando à mão contribui.

Armar a população para que ela se defenda da violência só demonstra que estamos falhando como Nação, jogando no colo do cidadão uma responsabilidade que é dos governantes. Não precisamos de mais armas, mas de políticas públicas eficientes que reduzam os elevados índices de criminalidade registrados pelos quatro cantos do país.

Renata Abreu é presidente nacional do Podemos e deputada federal por São Paulo

Winz

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Comentários

  • 1
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    Kleiton Ayala 22/02/2021

    Li o texto e também os comentários. Coloco-me ao lado daqueles que abominam a excessiva liberação de armas à população. Ter uma arma em casa para sua defesa, não é tão grave. Agora, poder andar com duas armas pelas ruas, ou 30, 60 armas em casa...aí já é maluquice, é cabeça de miliciano. O difícil de minha leitura, foi tentar adivinhar o que quiseram dizer os dois iletrados Moisés e Paulo "cruz". Ambos são ferrenhos defensores do uso irrestrito de armas. Assim como ambos fugiram da escola, ainda no Primário. Como não sabem usar a caneta, procuraram aperfeiçoar-se no uso das armas. Faz sentido...

  • 2
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    Marcos Britto 22/02/2021

    O pensamento em questão é muito coerente,só quem pode usar armas, é Polícia ou bandido, mesmo porque o bandido não pode perder o emprego, e viva a violência🤮🥵🥳🥳🥳

  • 3
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    Moises cruz 21/02/2021

    a nobre deputada so esqueceu de dizer o que ela e outros poderes tem feito no sentido de desarmarem "os bandidos". ja que o cidadão esta entregue a própria sorte. sem contar que sao esses mesmos que se declaram contra que andam com seguranças armados até os dentes. hipócritas!

  • 4
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    Cesar 21/02/2021

    Este discurso não funciona mais!!!! As pessoas que possuem condições de comprar suas armas que o façam dentro da lei!!! E não são todos que podem e que passam na provas e exames para se tirar um porte de arma!!!! A esquerda sempre procurou desarmar a população para que está ficasse a mercê de bandidos da pior espécime!!! Sendo refém destes . Na história nos temos vários aí que desarmaram a sociedade ,não muito longe daqui Venezuela!!! A nobre deputada sabe disso e quer ser contra !! Isso acabou !!! Quem tiver poder aquisitivo para comprar sua arma vai fazer, sem dúvida!! Dentro da lei!!!! Acabou aquele tiro sua arma e armo bandido!! Não existe mais! Os cidadãos brasileiro possuem este direito!!! Até mesmo porque o governo não tem condições de defender a todos!!! As nossas instituições de segurança não dão conta de proteger todo os cidadãos!!!

  • 5
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    Adelaide Fontoura 21/02/2021

    Abordagem inteligente e oportuna. O Miliciano de plantão está a afagar seus eleitores bandoleiros e parte dos seus patrocinadores, a indústria de armas de fogo.  Armar a população, na cabeça do chefão,  é dar folga aos milicianos para que estes se ocupem no controle do gás, enternet e habitação nas periferias urbanas.  O cabra não governa para os brasileiros. Só para a bandidagem. 

  • 6
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    Altemir Roque 21/02/2021

    A deputada falou dos dados da polícia federal sobre registro de armas. Só colocou um lado da moeda, obviamente aquele que lhe interessa ideologicamente (certamente ela não anda com segurança desarmado). Porque ela não colocou os dados da criminalidade antes e depois do famigerado estatuto do desarmamento? Certamente porque essas dados estatísticos vai contra seu ideologismo. A sociedade não corre menos perigo sem arma. O argumento é medíocre

  • 7
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    Chico Bento 21/02/2021

    Nunca tive e jamais teria uma arma em minha casa. É minha opinião pessoal e acho que o fato de possuir não irá deixar ninguém mais seguro. Porém respeito quem tem ou pretende comprar.

  • 8
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    Paulo 21/02/2021

    Rapaz e ser muita idiotas as alegacoes dessa pessoa, porque tem pavor a arma fica com esses questionamento idiotas,ela tem direito a seguranca armado.

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