Bolsonaro despede-se da Presidência deixando o país aos pedaços

“Mas de que adianta bater em quem já está morto?”, me perguntarão alguns. Adianta para que ninguém se esqueça de quem é o responsável pela atual situação do Brasil

Julimar Roberto
Publicada em 06 de dezembro de 2022 às 10:45
Bolsonaro despede-se da Presidência deixando o país aos pedaços

Presidente Jair Bolsonaro do lado de fora do local de votação no Rio de Janeiro 30/10/2022 (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)

No dia 5 de janeiro de 2021, Bolsonaro foi sincero. Talvez numa das raríssimas vezes em que sua sinceridade não foi demagoga, ele disse aos seus apoiadores, do alto do seu cercadinho: “Chefe, o Brasil está quebrado, chefe. Eu não consigo fazer nada”. Por incrível que pareça, naquele momento, ele tinha razão.

Mas o desabafo foi incompleto. Faltou-lhe o bom senso de assumir que ele, com apenas dois anos à frente da Presidência, já havia quebrado o país. E se naquele tempo já era esse o diagnóstico para nossa nação, imagine agora, com quatro anos de um governante que “não consegue fazer nada”. Não consegue ou não sabe, o que no caso dele dá na mesma.

“Mas de que adianta bater em quem já está morto?”, me perguntarão alguns. Adianta para que ninguém se esqueça de quem é o responsável pela atual situação do Brasil.

A menos de um mês da posse de Lula, as notícias não poderiam ser mais pessimistas. Manchetes estampam diariamente o saldo de uma administração pífia, indigna de um país da nossa magnitude.

Mesmo sendo um dos maiores produtores agrícolas do mundo e, até pouquíssimo tempo, líder na luta contra a fome, o Brasil amarga a vergonhosa e triste marca de 33,1 milhões de pessoas que não sabem se terão o que comer. Esses são dados do Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, publicado em junho. Conforme o estudo, atualmente, mais da metade (58,7%) da população brasileira convive com algum grau de insegurança alimentar.

Outra informação alarmante, é que a taxa de desemprego dobrou na gestão de Bolsonaro. Quase 10 milhões de brasileiros estão desempregados, segundo a última Pnad, do IBGE. E entre os desocupados, desalentados, trabalhadores desprotegidos, ocupados com insuficiência de horas ou em negócios familiares, sem direitos ou garantias, são cerca de 60 milhões de pessoas.

Para se ter ideia, 80% das famílias brasileiras estavam endividadas no mês de agosto deste ano, com uma inadimplência recorde, conforme comprovou a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). O estudo também apresentou que, na maioria absoluta dos casos investigados, as dívidas eram relacionadas a alimentação, energia elétrica, aluguel e gás. Mas, quase nunca, eram referentes a compras de bens, a exemplo da casa própria. Inclusive, esse foi o período ema que mais cresceu o número de retomada de bens, como carros e imóveis, por falta de pagamento ou para a quitação de dívidas.

Como se não bastasse, um levantamento feito pela Universidade Federal de Minas Gerais pontuou que, somente de janeiro a maio de 2022, mais de 26 mil pessoas foram registradas em situação de rua no CadÚnico. Estima-se que haja cerca de 180 mil brasileiros vivendo nessas condições atualmente.

Outro dado que também dobrou no país, durante a gestão bolsonarista, foi a inflação. Até agosto passado, considerando o período de 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve uma alta acumulada de 8,73%, enquanto que, no mesmo período em 2019 – início do governo de Bolsonaro – o aumento foi de 4,19%, menos da metade. Uma amarga diferença que sentimos no bolso todas as vezes que vamos ao supermercado.

Mas não para por aí. O presidente em fim de carreira transformou a nação numa verdadeira bomba relógio. Sua incompetência reverbera em todas as áreas.

Na Previdência, a fila do INSS já passa dos 5 milhões; 14 mil obras públicas federais estão paradas e sem previsão de retomada dos serviços; as universidades sofreram bloqueios no valor de R$ 244 milhões e, em meio a chuvas e deslizamentos por todo o país, Bolsonaro teve a disparidade de cortar 99% da verba destinada à prevenção de desastres naturais.

Tem mais. Na Farmácia Popular, o corte foi de 60%, afetando a distribuição gratuita de medicamentos para diabetes, hipertensão, asma, mal de Parkinson e muitos outros que compõem o rol do SUS. Nem o controle e prevenção do câncer de mama, segunda doença que mais mata mulheres no Brasil, ficou de fora, perdendo 45% do seu financiamento.

E não precisa já ter nascido para ser atingido pelos desmandos de Bolsonaro. Do programa responsável por reformar e comprar equipamentos para centros de parto normal, maternidades e UTIs neonatais – a Rede Cegonha -, ele subtraiu 61% da verba.

Quer aumentar a lista? Foram cortados 97% da verba para infraestrutura das escolas; 95% do valor que seria destinado à compra de ônibus para o transporte escolar; 95% no desenvolvimento da Educação básica; 61% na Rede de Atenção Psicossocial (Raps) para atendimento das pessoas com transtornos mentais e sequelas do uso de drogas; 56% foram subtraídos do financiamento para a Rede de Atenção a pessoas com deficiência e 61% do Brasil Sorridente.

Na realidade, a Lei Orçamentária que Bolsonaro deixou para 2023 é completamente perniciosa, assim como o rombo fiscal de R$ 400 bilhões, denunciado pelo ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Mas em meio a toda essa lambança, o primeiro presidente que não conseguiu se reeleger após a democratização do país não contava que ficaria sem foro privilegiado pela primeira vez em 30 anos, sendo obrigado a responder por seus crimes na Justiça comum. E mais, que teria a quebra do sigilo de 100 anos, imposto por ele em vários decretos presidenciais para omitir, desde as informações de seu cartão de vacina, como as despesas nos cartões coorporativos e as visitas dos pastores - lobistas do MEC - Gilmar Santos e Arilton Moura.

Então, quem sabe, esses quatro anos de sucateamento de nossa nação e prejuízos ao povo brasileiro possam, enfim, ser amenizados após a contemplação de duas cenas históricas: Lula subindo pela terceira vez a rampa do Planalto usando a faixa presidencial, e Bolsonaro sendo conduzido algemado pela polícia federal.

Julimar Roberto

Comerciário e presidente da Contracs-CUT

Winz

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