CONVITE DE NATAL

Dona Ivalda ia lá em casa chamar a gente, eu, meus irmãos, minha mãe. Pra passar o Natal lá, na casa dela

Fonte: José Danilo Rangel - Publicada em 18 de dezembro de 2025 às 13:30

CONVITE DE NATAL

Daqui a pouco, o Natal: a festa, momento de fartura, confraternização e tudo mais. Não pra todos. Enquanto algumas crianças viverão a magia de ganhar uma bicicleta, um videogame, uma viagem, naquilo que será uma data inesquecível, outras vão perguntar pela janta.

E é provável que durmam com fome, ao som e às luzes das festas e fogos pela vizinhança.

Todo ano, mais ou menos nessa época, volto pra década de 90. A gente morava no São Francisco, mesmo bairro onde minha mãe comprou aquela enciclopédia ilustrada pra pagar em dois meses. 

Assim como aniversários e outras comemorações, o Natal era algo distante. Era a festa, sim, mas na casa dos outros. O bairro inteiro se iluminava, menos a nossa casa. E de outra vizinha, a Lucinha. Embora acostumados à dificuldade, no dia 24, a gente sabia: aquela noite seria um pouco mais difícil.

Não era.

Dona Ivalda ia lá em casa chamar a gente, eu, meus irmãos, minha mãe. Pra passar o Natal lá, na casa dela. A vergonha era maior que a fome, mas ela insistia, fazia questão. Pegava pelo braço. A gente ia. Pra “dar uma olhada”.

Lembro do quintal, o jambeiro no meio, uns vasos, as mesas e cadeiras de metal. Lembro da bagunça, das brincadeiras até depois da meia-noite, das pessoas rindo, bebendo, comendo.

Lembro do monte de comida que a gente comia e do outro monte que a dona Ivalda insistia pra gente levar pra casa. Lembro de me sentir acolhido e respeitado.

O Natal não virou a pior época do ano pra mim por isso: a solidariedade da periferia de Porto Velho. Dona Ivalda… Hoje, tento fazer o mesmo, ajudar, compartilhar, ainda que o pouco. E recomendo! A gente nunca sabe quando está salvando o mundo de mais um desencantado.

CONVITE DE NATAL

Dona Ivalda ia lá em casa chamar a gente, eu, meus irmãos, minha mãe. Pra passar o Natal lá, na casa dela

José Danilo Rangel
Publicada em 18 de dezembro de 2025 às 13:30
CONVITE DE NATAL

Daqui a pouco, o Natal: a festa, momento de fartura, confraternização e tudo mais. Não pra todos. Enquanto algumas crianças viverão a magia de ganhar uma bicicleta, um videogame, uma viagem, naquilo que será uma data inesquecível, outras vão perguntar pela janta.

E é provável que durmam com fome, ao som e às luzes das festas e fogos pela vizinhança.

Todo ano, mais ou menos nessa época, volto pra década de 90. A gente morava no São Francisco, mesmo bairro onde minha mãe comprou aquela enciclopédia ilustrada pra pagar em dois meses. 

Assim como aniversários e outras comemorações, o Natal era algo distante. Era a festa, sim, mas na casa dos outros. O bairro inteiro se iluminava, menos a nossa casa. E de outra vizinha, a Lucinha. Embora acostumados à dificuldade, no dia 24, a gente sabia: aquela noite seria um pouco mais difícil.

Não era.

Dona Ivalda ia lá em casa chamar a gente, eu, meus irmãos, minha mãe. Pra passar o Natal lá, na casa dela. A vergonha era maior que a fome, mas ela insistia, fazia questão. Pegava pelo braço. A gente ia. Pra “dar uma olhada”.

Lembro do quintal, o jambeiro no meio, uns vasos, as mesas e cadeiras de metal. Lembro da bagunça, das brincadeiras até depois da meia-noite, das pessoas rindo, bebendo, comendo.

Lembro do monte de comida que a gente comia e do outro monte que a dona Ivalda insistia pra gente levar pra casa. Lembro de me sentir acolhido e respeitado.

O Natal não virou a pior época do ano pra mim por isso: a solidariedade da periferia de Porto Velho. Dona Ivalda… Hoje, tento fazer o mesmo, ajudar, compartilhar, ainda que o pouco. E recomendo! A gente nunca sabe quando está salvando o mundo de mais um desencantado.

Comentários

  • 1
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    Raimundo Mendes 18/12/2025

    Belo texto de uma reflexão do amigo Danilo. Assim como o Danilo, eu também tenho ótimas lembranças dos Natais de uma época passada. Muitas coisas mudaram então...mais ainda podemos enxergar bons sentimentos e atitudes que evidenciam a existência de alguma virtude no mundo...

  • 2
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    Raimundo Mendes 18/12/2025

    Belo texto de uma reflexão do amigo Danilo. Assim como o Danilo, eu também tenho ótimas lembranças dos Natais de uma época passada. Muitas coisas mudaram então...mais ainda podemos enxergar bons sentimentos e atitudes que evidenciam a existência de alguma virtude no mundo...

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    Raimundo Mendes 18/12/2025

    Belo texto de uma reflexão do amigo Danilo. Assim como o Danilo, eu também tenho ótimas lembranças dos Natais de uma época passada. Muitas coisas mudaram então...mais ainda podemos enxergar bons sentimentos e atitudes que evidenciam a existência de alguma virtude no mundo...

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    Raimundo Mendes 18/12/2025

    Belo texto de uma reflexão do amigo Danilo. Assim como o Danilo, eu também tenho ótimas lembranças dos Natais de uma época passada. Muitas coisas mudaram então...mais ainda podemos enxergar bons sentimentos e atitudes que evidenciam a existência de alguma virtude no mundo...

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