Este foi o ano da virada

O próximo ano deve consolidar as tendências positivas no Brasil e na América Latina. A reeleição do Lula será a melhor expressão dessas tendências positivas

Fonte: Emir Sader - Publicada em 11 de outubro de 2025 às 09:04

Este foi o ano da virada

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro bilateral com presidente do México, Claudia Sheinbaum (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Ainda não era hora do balanço do ano, mas já podemos dizer que as correlações de força mudaram, ao longo do ano, a favor do Lula e das forças democráticas.

Foi neste ano que o Tarifaço do Donald Trump provocou, da parte do Lula, uma reação que o levou a recuperar sua imagem de “presidente que defende os interesses do Brasil”. Ele foi resgatar o conceito de soberania, profundamente vulnerado pela ofensiva do governo Trump contra o Brasil, combinando altas tarifas que afetaram a economia do país com ameaças contra a autonomia do Judiciário brasileiro e contra os processos a Bolsonaro.

Foi nesse cenário que se deu a virada da conjuntura política, que se tornou favorável a Lula e às forças democráticas brasileiras. Por um lado, o governo acudiu aos setores mais diretamente afetados pelas tarifas; por outro, respondeu politicamente às agressões à soberania do país, defendendo o Judiciário.

Ao mesmo tempo, a direita (toda ela bolsonarista) se jogou a favor do Tarifaço, acreditando que seus efeitos seriam graves para a economia do país e sem se dar conta de como apareceriam como anti-brasileiros/anti-patriotas, a favor exclusivamente da situação do Bolsonaro.

Foi, como se disse, um tiro no pé da direita, ao mesmo tempo que o Tarifaço foi um presente para Lula. A combinação desses dois fatores produziu a mudança radical da correlação de forças no Brasil.

A direita passou à defensiva. De propor uma anistia, agora se resignam a tentar diminuir a pena de Bolsonaro. Ao mesmo tempo que já se conformam com a reeleição do Lula e se preparam para tentar manter a maioria de direita no próximo Congresso, para seguir atrapalhando, até onde possam, o quarto mandato do Lula.

Enquanto isso, a esquerda recuperou iniciativa e foi reconquistando bases de apoio político. Ao mesmo tempo, setores do bolsonarismo foram mudando de posição e aderindo a posições da esquerda.

O Brasil chega, assim, ao fim deste ano como um país distinto de como ele entrou. A economia segue crescendo, o pleno emprego se mantém, ao mesmo tempo que o governo aprofunda as políticas sociais, na dinâmica antineoliberal que o caracteriza.

O projeto de política tributária representou uma mudança significativa na questão do imposto de renda, a favor da grande maioria da população, que deixará de pagar imposto, enquanto se eleva a taxação para cerca de 120 mil super ricos.

Foi também o ano em que começaram a mudar as relações dos governos do Brasil e o dos Estados Unidos. Estavam no seu pior momento a partir do Tarifaço e da tentativa de interferência no Judiciário brasileiro. A partir do contato que o Lula e o Trump tiveram nos bastidores da ONU, melhoraram substancialmente as relações entre os dois países, abrindo melhores perspectivas de relação entre os dois governos, com possíveis efeitos sobre as tarifas.

As perspectivas para o próximo ano são favoráveis para o Brasil. Em primeiro lugar, a reeleição do Lula se torna cada vez mais provável com o fortalecimento do apoio a ele, ao mesmo tempo que a direita nem consegue definir seu candidato, com todos os possíveis derrotados por Lula, segundo as pesquisas.

Por outro lado, os Brics se tornaram o fenômeno mais importante do século XXI. O Brasil e o Mexico lideram os governos progressistas no continente, mostrando dois países que melhoram substancialmente suas situações, enquanto o modelo de governo de direita na América Latina, o de Milei, na Argentina, se encontra no seu pior momento. Embora ele ainda tenha dois anos de mandato, a perspectiva é o governador da província de Buenos Aires, Axel Kicilof se tornar o próximo presidente do país, voltando a se aliar ao governo brasileiro.

O próximo ano deve consolidar as tendências positivas no Brasil e na América Latina. A reeleição do Lula será a melhor expressão dessas tendências positivas.

Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

Este foi o ano da virada

O próximo ano deve consolidar as tendências positivas no Brasil e na América Latina. A reeleição do Lula será a melhor expressão dessas tendências positivas

Emir Sader
Publicada em 11 de outubro de 2025 às 09:04
Este foi o ano da virada

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro bilateral com presidente do México, Claudia Sheinbaum (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Ainda não era hora do balanço do ano, mas já podemos dizer que as correlações de força mudaram, ao longo do ano, a favor do Lula e das forças democráticas.

Foi neste ano que o Tarifaço do Donald Trump provocou, da parte do Lula, uma reação que o levou a recuperar sua imagem de “presidente que defende os interesses do Brasil”. Ele foi resgatar o conceito de soberania, profundamente vulnerado pela ofensiva do governo Trump contra o Brasil, combinando altas tarifas que afetaram a economia do país com ameaças contra a autonomia do Judiciário brasileiro e contra os processos a Bolsonaro.

Foi nesse cenário que se deu a virada da conjuntura política, que se tornou favorável a Lula e às forças democráticas brasileiras. Por um lado, o governo acudiu aos setores mais diretamente afetados pelas tarifas; por outro, respondeu politicamente às agressões à soberania do país, defendendo o Judiciário.

Ao mesmo tempo, a direita (toda ela bolsonarista) se jogou a favor do Tarifaço, acreditando que seus efeitos seriam graves para a economia do país e sem se dar conta de como apareceriam como anti-brasileiros/anti-patriotas, a favor exclusivamente da situação do Bolsonaro.

Foi, como se disse, um tiro no pé da direita, ao mesmo tempo que o Tarifaço foi um presente para Lula. A combinação desses dois fatores produziu a mudança radical da correlação de forças no Brasil.

A direita passou à defensiva. De propor uma anistia, agora se resignam a tentar diminuir a pena de Bolsonaro. Ao mesmo tempo que já se conformam com a reeleição do Lula e se preparam para tentar manter a maioria de direita no próximo Congresso, para seguir atrapalhando, até onde possam, o quarto mandato do Lula.

Enquanto isso, a esquerda recuperou iniciativa e foi reconquistando bases de apoio político. Ao mesmo tempo, setores do bolsonarismo foram mudando de posição e aderindo a posições da esquerda.

O Brasil chega, assim, ao fim deste ano como um país distinto de como ele entrou. A economia segue crescendo, o pleno emprego se mantém, ao mesmo tempo que o governo aprofunda as políticas sociais, na dinâmica antineoliberal que o caracteriza.

O projeto de política tributária representou uma mudança significativa na questão do imposto de renda, a favor da grande maioria da população, que deixará de pagar imposto, enquanto se eleva a taxação para cerca de 120 mil super ricos.

Foi também o ano em que começaram a mudar as relações dos governos do Brasil e o dos Estados Unidos. Estavam no seu pior momento a partir do Tarifaço e da tentativa de interferência no Judiciário brasileiro. A partir do contato que o Lula e o Trump tiveram nos bastidores da ONU, melhoraram substancialmente as relações entre os dois países, abrindo melhores perspectivas de relação entre os dois governos, com possíveis efeitos sobre as tarifas.

As perspectivas para o próximo ano são favoráveis para o Brasil. Em primeiro lugar, a reeleição do Lula se torna cada vez mais provável com o fortalecimento do apoio a ele, ao mesmo tempo que a direita nem consegue definir seu candidato, com todos os possíveis derrotados por Lula, segundo as pesquisas.

Por outro lado, os Brics se tornaram o fenômeno mais importante do século XXI. O Brasil e o Mexico lideram os governos progressistas no continente, mostrando dois países que melhoram substancialmente suas situações, enquanto o modelo de governo de direita na América Latina, o de Milei, na Argentina, se encontra no seu pior momento. Embora ele ainda tenha dois anos de mandato, a perspectiva é o governador da província de Buenos Aires, Axel Kicilof se tornar o próximo presidente do país, voltando a se aliar ao governo brasileiro.

O próximo ano deve consolidar as tendências positivas no Brasil e na América Latina. A reeleição do Lula será a melhor expressão dessas tendências positivas.

Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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