Flávio Bolsonaro e o navio da bancada cristã
Os EUA poderiam ajudar a explodir um navio de bolsonaristas evangélicos, golpistas e criminosos, que traficam mentiras em nome de Jesus, ironiza Nêggo Tom
Flávio Bolsonaro (Foto: Jefferson Rudy/Ag. Senado)
Sigo em recuperação de uma cirurgia, mas os roteiristas da história política brasileira não me deixam descansar. Eu gostaria apenas de dizer que um homem recém operado não quer guerra com ninguém, mas preciso interromper o meu repouso relativo para falar sobre dois fatos que me chegam e que não podem me fazer adormecer a minha indignação, tal qual a anestesia raqui me fez adormecer da cintura para baixo durante o processo cirúrgico. Começarei pela “Bancada Cristã”, o início da condenação do país ao inferno evangélico na terra. E não foi por falta de aviso que estamos começando a ser devorados pela política diabólica neopentecostal e o seu projeto de poder social, econômico e cultural.
Há muito tempo venho escrevendo sobre as articulações políticas envolvendo a teologia do domínio, e suas ramificações dentro da nossa sociedade. A falsa ideia de um avivamento evangélico e de um chamado à conversão em “Cristo Jesus” que estaria contagiando os brasileiros, é uma ode à inteligência de Malafaia, digo, de Satanás. Nada se encaixa melhor no tal do “matar, roubar e destruir” atribuído ao diabo, do que o plano imperialista evangélico de dominação no Brasil. As igrejas viraram “churchs”, os pastores viram “coachs”, e Jesus virou uma espécie de eminência parda que legitima autoridades religiosas e políticas para fazer a “sua vontade” e lhe garantir a propriedade privada da antiga terra de Santa Cruz. O Jesus colonizador não é inédito na história deste país, mas a sua nova face neoliberal e teoricamente salvadora, é o que mais promove a adesão ao seu reino.
A bancada cristã terá uma estrutura de governança específica para o grupo, incluindo uma coordenação geral e três vices-coordenadorias. O projeto foi aprovado em regime de urgência com 398 votos a favor, dos quais 56 foram de deputados do PT. Uma prova que não basta ser de esquerda para defender a laicidade do Estado, algo que já me faz criticar o diálogo submisso do governo Lula com os evangélicos, sabendo que isto apenas ampliaria os seus poderes políticos. E parece que eu não estava errado. E vou além: Todo aquele que tem uma divindade como salvadora da humanidade, não respeita o Estado Democrático de Direito, porque a coloca acima de tudo e de todos. E o que eu falo não tem a ver com fé religiosa das pessoas - que merece todo respeito - mas com o sentido que é dado a esta fé no convívio com os demais em sociedade, e no respeito aos direitos individuais de cada um.
Se o deus que eu creio é o único digno de credibilidade, eu irei querer submeter aqueles que não creem no mesmo deus que eu ao meu julgo. E se eu tenho poder político para impor tal submissão, eu transformo o parlamento num tribunal de exceção em nome do meu deus, e passo a legislar em causa própria. E fica quase impossível não haver avivamento e conversão desta forma. Vale lembrar ainda que o texto do projeto propõe que o líder cristão participe e tenha direito a voto nas reuniões que definem a agenda de votação da Casa. Ou seja, em breve, estaremos ouvindo parlamentares dizendo que Jesus os mandou votar contra ou a favor de tal pauta ou projeto, e não caberá questionamentos. O Congresso dará lugar a uma “Church Nacional” que decidirá os destinos de todos os cidadãos através de representantes de “Deus”, e não do povo, que promoverão um verdadeiro inferno cristão no país.
Na outra ponta do inferno que se avizinha, vejo Flávio Bolsonaro sugerir que os EUA bombardeiem navios supostamente cheios de drogas e traficantes, que costumam trafegar pela Baía da Guanabara. E isto também poderia ser feito com o apoio da bancada cristã, cujo alguns membros possuem estreitas ligações com a terra do tio Trump. A questão é saber se a destruição de algumas armas e drogas que abastecem comunidades geridas em conjunto pelo tráfico, pela milícia e pela igreja evangélica, não teriam prejuízos. Eu não sei se Jesus seria consultado nesta questão, mas acredito que ele aprovaria que os EUA bombardeassem algumas igrejas e ajudassem o Brasil a combater criminosos “do jeito certo”, como apelou o Senador bolsonarista. Afinal, já está aprovado que não combater a proliferação das empresas da fé no país, é incentivar a bandidagem.
Eu poderia falar sobre um possível processo de cassação do Senador Flávio Bolsonaro, mas seria escrever em vão. E já que o faço pelo celular, em meio ao meu repouso relativo, prefiro não me desgastar à toa ao lembrar que o Conselho de Ética da Church, digo, da Câmara dos Deputados acabou de arquivar o processo de cassação de Eduardo Bolsonaro - irmão do referido Senador - que está há alguns meses exercendo o seu mandato nos EUA conspirando contra o seu próprio país. Alguma dúvida de que a bancada cristã salvaria o mandato do seu irmão em Cristo Flávio Bolsonaro? Talvez a solução seja colocá-los dentro de um navio desses que Flávio diz que trafegam pela Baía de Guanabara, e deixar que eles se virem para explicar aos EUA como foram parar lá. Quem sabe cantando a “Melô do Marinheiro” dos Paralamas do Sucesso, ele convence a artilharia estadunidense de que entrou de gaiato no navio, e que tudo não passou de um engano?
Se não der certo, que eles fiquem por lá descascando batata e fritando hambúrguer no porão do navio, como castigo por sua traição à soberania do próprio país. O meu receio, na verdade, é que o Brasil se transforme num navio alvo de um ataque imperialista estadunidense, em função das diversas “bancadas” políticas e religiosas que vêm atuando para entregá-lo nas mãos dos interesses norte-americanos, acusando de serem “criminosos” aqueles que não se rendem ao projeto de domínio estabelecido como a salvação do país. Um projeto que tem céu e inferno muito bem definidos, assim como os habitantes que devem ocupar ambos os lugares. Oremos!
Ricardo Nêggo Tom
Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247, e colunista do Brasil 247
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