JBS é ligada a 'lavagem de gado' na Amazônia, diz Greenpeace
A investigação mostra que animais criados em áreas embargadas e desmatadas ilegalmente foram repassados para uma fazenda intermediária
Mesmo com dois embargos do Ibama, de 2011 e 2018, a Fazenda Nova Orleans (acima) forneceu gado indiretamente para a JBS. Há indícios de que a Rancho Alegre esquentou esses bois para a JBS. Fonte: Greenpeace Brasil e SICAR (2025)
Denúncia aponta desmatamento ilegal direto e indireto na cadeia de abastecimento da empresa no Pará;
Publicação revela como uma fazenda embargada e uma pequena propriedade rural formam um esquema de lavagem de gado que abastece a JBS e ameaça a Amazônia
Confira o conteúdo completo do estudo e galeria de fotos
O Greenpeace Brasil divulga hoje (29) uma investigação inédita que expõe como a JBS, maior empresa de proteína animal do mundo, segue ligada a desmatamento ilegal na Amazônia por meio da lavagem de gado. A investigação mostra que animais criados em áreas embargadas e desmatadas ilegalmente foram repassados para uma fazenda intermediária e, em seguida, vendidos ao frigorífico da JBS em Santana do Araguaia (PA). A íntegra do conteúdo, com documentos e evidências, imagens de satélite, entre outros, está disponível para a imprensa aqui, além da galeria de fotos.
O caso envolve duas propriedades do mesmo núcleo familiar no sudeste do Pará: a Fazenda Nova Orleans, com mais de 10 mil hectares e embargada pelo Ibama em 2011 e 2018, e a Chácara Rancho Alegre, fornecedora direta da JBS. Dados de movimentação de animais revelam que, entre 2018 e 2023, quase 2 mil bois foram transferidos da Nova Orleans para a Rancho Alegre — que, por sua vez, entregou pelo menos 841 bois ao frigorífico da JBS em menos de um ano. Entre 2018 e 2024 a Rancho Alegre, com seus 64 hectares, fez 129 entregas para a JBS de Santana do Araguaia.
As duas propriedades envolvidas na investigação — a Fazenda Nova Orleans e a Chácara Rancho Alegre — pertencem a membros da mesma família. Conforme descrito no Cadastro Ambiental Rural (CAR), a Nova Orleans está registrada em nome de Mário Biernaski, enquanto a Rancho Alegre tem como propriedade de Tania Marta de Sene Biernaski. A partir de consulta ao Cadastro Ambiental Rural do Pará, o Greenpeace Brasil constatou que a Fazenda Nova Orleans possui área de 10.574 hectares, equivalente a 74 vezes o tamanho do Hyde Park, de Londres, ou 48 vezes o Parque Ibirapuera, de São Paulo. Já a Chácara Rancho Alegre tem apenas 64 hectares, ou seja, 165 vezes menor que a Nova Orleans.
A ligação familiar reforça os indícios de que as duas fazendas funcionam de forma articulada: a Nova Orleans, com histórico de desmatamento ilegal e embargos ambientais, transfere gado para a Rancho Alegre, livre de embargos para viabilizar a comercialização do rebanho junto ao frigorífico da JBS. Dessa forma, a lavagem de gado entre as propriedades cria um mecanismo para camuflar a origem ilegal dos animais e driblar os mecanismos de controle ambiental.
O Greenpeace Brasil reforça que os principais frigoríficos do país, como a JBS, se comprometeram em 2009 a eliminar o desmatamento – direto e indireto – de suas cadeias produtivas na Amazônia até 2011 e, quase quinze anos depois, o compromisso ainda está longe de ser alcançado.
Histórico de destruição
Em julho de 2011, o Ibama registrou um embargo e um auto de infração na Fazenda Nova Orleans por “danificar 1.168,63 ha de floresta nativa, objeto de especial preservação (com uso de Fogo), sem licença da autoridade ambiental competente (...)”. A área segue embargada, conforme certidão emitida pelo Ibama em agosto de 2025. Um segundo embargo foi registrado, em 2018, na mesma fazenda, cuja descrição consta como: “fica embargada toda e qualquer atividade agrosilvopastoril na área de 534,2458 hectares, com o objetivo de propiciar a regeneração do meio ambiente e dar viabilidade à recuperação da área degradada".
A Nova Orleans ainda aparece na Lista do Desmatamento Ilegal (LDI) do governo do Pará devivo ao desmatamento de 164,75 hectares em 2013, detectado via PRODES. A propriedade é categorizada como “inapta” pelo Selo verde, plataforma que subsidia o monitoramento e a avaliação de políticas de desenvolvimento agropecuário sustentável e combate ao desmatamento ilegal no Pará, que também constatou alteração dos limites da fazenda para excluir desmatamento.
Os desmatamentos ocorridos na Nova Orleans foram registrados pelo Greenpeace Brasil por meio do sistema de monitoramento Papa Alpha, ferramenta de georreferenciamento que monitora o avanço do desmatamento e do garimpo ilegal por meio de dados enviados por satélites em tempo quase real.

Desmatamento na Fazenda Nova Orleans. Fonte: Greenpeace Brasil (2025)
Já a Chácara Rancho Alegre, que recebe animais de área com embargo ambiental, também é classificada como inapta no Selo Verde, dentro os motivos pela pratica de desmatamento ilegal após 2008, o que viola critérios do TAC da Carne e do Compromisso Público da Pecuária, assinados pela JBS desde 2009. Vale ressaltar outra constatação do estudo do Greenpeace Brasil: Entre 2018 e 2023, a Rancho Alegre movimentou mais de 4 mil bois. Isso representaria uma produtividade média de 10 animais por hectare ao ano, mais que o triplo do limite considerado razoável no Protocolo de Monitoramento de Fornecimento de Gado, aprovado pelo Ministério Público Federal (3 cabeças/ha/ano).
“A JBS prometeu eliminar o desmatamento de sua cadeia de fornecimento, incluindo o indireto, até 2011. Mais de uma década depois, segue descumprindo acordos e empurrando a Amazônia para o ponto de não retorno. Esse caso mostra, na prática, como a falta de monitoramento de fornecedores indiretos alimenta a destruição da floresta e acelera a crise climática”, afirma a porta-voz do Greenpeace Brasil, Cristiane Mazzetti.
A denúncia ganha ainda mais relevância às vésperas da COP30, que será realizada em novembro no coração da Amazônia. Para o Greenpeace, não há mais espaço para promessas vazias: é urgente que os governos regulem de maneira eficaz os frigoríficos e o setor financeiro, assegurando o fim das irregularidades ambientais e a transição para sistemas alimentares sustentáveis.
Demandas do Greenpeace Brasil
- Que líderes mundiais, sob a liderança do Brasil, adotem até a COP30 um plano de ação para acabar com o desmatamento até 2030;
- Que instituições financeiras revisem financiamentos e investimentos a empresas ligadas à destruição ambiental;
- Que governos implementem regulações rígidas para alinhar os setores agropecuário e financeiro ao Acordo de Paris e ao Marco Global da Biodiversidade.
Os impactos da falta de controle da cadeia indireta já são amplamente documentados. O Greenpeace relembra, por exemplo, os fatos do dossiê JBS Cozinhando o Planeta, que reúne evidências do envolvimento do maior frigorífico do país com áreas desmatadas ilegalmente.
Em ano de COP na Amazônia, o Greenpeace aponta que os governos devem regular urgentemente o setor agropecuário, responsável por 74% das emissões de GEE do país em 2023 (SEEG), e financeiro para garantir seu alinhamento com o Acordo de Paris, o Marco Global da Biodiversidade e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, assegurando a transição para sistemas alimentares verdadeiramente sustentáveis e justos, o fim do desmatamento e a redução das emissões associadas à agropecuária, incluindo o metano.
O que diz a JBS?
A JBS teve a oportunidade de comentar as conclusões do estudo de caso. Em sua resposta, a JBS indicou que todas as compras mencionadas estavam em conformidade com a política da empresa e com o protocolo setorial e que bloquearam preventivamente a Chácara Rancho Alegre, no Pará, e solicitaram esclarecimentos ao produtor. A JBS acrescentou ainda que a Fazenda Nova Orleans está bloqueada desde 2014.
Sobre o Greenpeace Brasil
O Greenpeace Brasil é uma organização ativista ambiental sem fins lucrativos, que atua desde 1992 na defesa do meio ambiente. Ao lado de todas as pessoas que buscam um mundo mais verde, justo e pacífico, a organização atua há mais de 30 anos pela defesa do meio ambiente denunciando e confrontando governos, empresas e projetos que incentivam a destruição das florestas.
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