Os crimes de Bolsonaro: a disputa de narrativa se faz necessária
"Cabe ao campo democrático reafirmar, sem hesitação, que houve sim uma tentativa de golpe contra a democracia"
Estátua do STF 'A Justiça' vandalizada no 8 de Janeiro de 2023 (Foto: Joedson Alves/Agência Brasil)
Já destaquei neste espaço a importância de recorrer a esquemas, desenhos e ilustrações para facilitar a compreensão dos fatos. O julgamento que começa hoje - o primeiro de um ex-presidente no banco dos réus por crimes contra a democracia - é uma dessas situações que exige a exposição do óbvio, para não permitir margem para tergiversações ou versões fantasiosas.
Convém lembrar: Jair Bolsonaro já havia sido condenado e se encontra inelegível por oito anos, em razão do abuso de poder político e do uso indevido dos meios de comunicação durante a reunião com embaixadores estrangeiros realizada no Palácio da Alvorada, em 18 de julho de 2022, quando mais uma vez espalhou mentiras sobre o sistema eleitoral e a segurança das urnas eletrônicas.
Agora, a partir deste 2 de setembro de 2025, quase três anos após ser derrotado por Lula nas urnas, Bolsonaro passa a responder por cinco crimes ainda mais graves: organização criminosa armada, dano qualificado contra o patrimônio da União, deterioração de patrimônio tombado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado.
O roteiro identificado pela Polícia Federal e corroborado pela Procuradoria-Geral da República demonstra, sem margem de dúvida, a construção planejada e sistemática da trama golpista. Nele se inscrevem o chamado Plano Punhal Verde e Amarelo, que previa o assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes; as barreiras da Polícia Rodoviária Federal que tentaram impedir eleitores de Lula de votar no Nordeste; a minuta de golpe que previa a instalação de um poder ditatorial; as manifestações em rodovias e diante de quartéis; e, por fim, os atos terroristas de 8 de janeiro de 2023 contra a sede dos Três Poderes.
São provas materiais e irrefutáveis: mensagens trocadas, documentos impressos e digitais, depoimentos de participantes das reuniões golpistas. A robustez da evidência é tamanha que há até desavisadas admissões de culpa em declarações de acusados. A condenação, portanto, não é apenas provável - é inevitável.
Tudo é claro, tudo é objetivo. Mas a história nunca se escreve apenas com objetividades. Daí a necessidade da disputa de narrativas - feita com técnica, forma, conteúdo e constância -, para que a verdade histórica reflita a história verdade de que os acusados tentaram impor uma ditadura no Brasil. Cabe ao campo democrático reafirmar, sem hesitação, que houve sim uma tentativa de golpe contra a democracia brasileira, contrapondo-se à inevitável tentativa, por parte dos condenados, de uma vitimização.
Oliveiros Marques
Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas
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Comentários
E o crime do irmão de nove dedos? Será que vai preso? Será que a participação do sindicato dele nos roubos do INSS vai ficar impune? Acredito que sim, os "amiguinhos" deles são os donos da justiça no Brasil.
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