Por que Lula quer outro mandato?
Que a nova campanha sirva para promover um grande debate sobre os problemas atuais e o futuro do país, assim como para promover processos de mobilização popular
Chegada do presidente Lula ao Palácio Merdeka, na Indonésia (Foto: Ricardo Stuckert / PR)
Finalmente, na reunião da Malásia, o Lula falou abertamente que se sente muito bem de saúde e que vai se candidatar a um quarto mandato.
Por que o Lula busca outro mandato?
Em primeiro lugar, como ele mesmo tem reiterado, para impedir que a direita volte a governar o Brasil. O fato de ele derrotar a todos os eventuais candidatos adversários fortalece a ideia de que a sua candidatura tem cada vez mais possibilidades de sair vitoriosa e de lhe propiciar um quarto mandato.
Seria para dar continuidade aos programas que ele vem desenvolvendo, mesmo sem maioria no Congresso, e que têm caracterizado sempre todos os governos do PT. Antes de tudo, prioridade das políticas sociais, como forma de resistência e de combate ao neoliberalismo.
Em vez da prioridade dos ajustes fiscais, políticas sociais. Com elas, o governo Lula tem conseguido diminuir relativamente o mais grave problema brasileiro: o de ser o mais desigual do continente mais desigual do mundo. Desigualdades sociais, sobretudo, mas também desigualdades regionais.
Este certamente é o governo do Lula que implementa mais políticas sociais, com novas modalidades, não apenas de ordem social, mas também de gênero, regionais e outras.
Mas o que ainda persiste como elemento forte do neoliberalismo é a presença do capital financeiro na sua modalidade especulativa — o capital que não produz bens nem empregos, que vive das altas taxas de juros.
Esse tem sido um problema que o próprio Lula ataca, como o fez recentemente. Não tem sentido, com a inflação sob controle neste ano e com previsões favoráveis para o próximo, manter a taxa de juros de 15%.
É certo que o Galípolo tem um mandato que ainda se prolonga por algum tempo, e que os próprios governos anteriores do PT combinaram uma política de desenvolvimento econômico com um presidente do Banco Central mais centrado no controle da inflação.
Mas nunca essa diferença tinha se tornado uma contradição, em que a economia poderia — e deveria — crescer a taxas mais altas, mas não o faz, brecada pela alta taxa de juros.
Essa questão deve se prolongar ainda por uma primeira parte de um provável quarto mandato do Lula. Mas ela tem que ser equacionada, para ter uma solução positiva.
O Lula se deu conta, já há algum tempo, de que os governos do PT devem assumir a responsabilidade do controle da inflação. Por um lado, porque a inflação é um imposto sobre o salário dos trabalhadores, que, no meio do mês, têm menor poder aquisitivo se a inflação corrói o seu salário.
Mas também porque ele se deu conta de que há uma dimensão psicológica da inflação, muito explorada pela mídia para promover graus de incerteza no ambiente econômico, mesmo quando ela está sob controle, como agora.
Um quarto governo Lula deveria ter como um de seus objetivos quebrar esse lugar ainda ocupado pelo capital especulativo, rompendo sua coluna vertebral e fazendo o Brasil passar da fase atual de antineoliberalismo a uma etapa pós-neoliberal, de retomada do crescimento econômico a níveis mais altos, expansão ainda maior do nível de emprego e transformação democrática do Estado brasileiro.
Outra das questões que o Lula poderia assumir em seu provável novo mandato seria a de fazer do Brasil um território livre do analfabetismo, que ainda afeta dezenas de milhões de trabalhadores. O objetivo dos governos do PT de transformar todos os indivíduos em cidadãos — sujeitos de direitos — supõe que eles tenham capacidade de leitura e acesso ao conhecimento.
Até mesmo porque, além dos analfabetos tradicionais, há os analfabetos funcionais — os que aprenderam a ler, mas que, ao não praticar a leitura, perderam a capacidade de ler, compreender um texto e escrever. No país de Paulo Freire, responsável pelo mais importante método de alfabetização, isso se torna ainda mais inaceitável.
É um objetivo complexo, também porque hoje a maioria dos analfabetos são pessoas idosas, que têm que ser convencidas de que vale a pena aprender a ler, o que supõe a adaptação dos métodos tradicionais a um universo especial.
Um objetivo desses — que tomara que um quarto governo Lula o assuma — requer uma campanha nacional, uma mobilização dos estudantes e professores das escolas públicas, para que participem ativamente em mutirões nacionais. Para que o quarto governo Lula desemboque em um Brasil como um território livre do analfabetismo, fazendo jus a sermos o país de Paulo Freire.
Restam ainda as eleições. Que a nova campanha eleitoral sirva também para promover um grande debate nacional sobre os problemas atuais e o futuro do país, assim como para promover grandes processos de mobilização popular, que o Lula já demonstrou ser capaz de colocar em prática. Porque, também, será necessário ter um Congresso menos ruim do que o atual, para que o quarto seja o melhor mandato do Lula.
Emir Sader
Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros
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