Arraial Flor do Maracujá debatido durante audiência pública na Assembleia Legislativa

De iniciativa do deputado Jair Montes, audiência reuniu Governo e representantes das agremiações.

Eranildo Costa Luna - Decom/ALE/Fotos: José Hilde e Marcos Figueira-Decom-ALE-RO
Publicada em 20 de maio de 2019 às 16:43
Arraial Flor do Maracujá debatido durante audiência pública na Assembleia Legislativa

A Assembleia Legislativa sediou na manhã desta segunda-feira (20), audiência pública para debater a realização do Arraial Flor do Maracujá, em sua 38ª edição, atendendo à propositura do deputado Jair Montes (PTC), que foi aprovada em plenário. O evento está programado para ocorrer entre os dias 27 de junho a 07 de julho, no Parque dos Tanques. 

Jair Montes presidiu a audiência, que contou ainda com as presenças dos deputados estaduais Marcelo Cruz (PTB) e Eyder Brasil (PSL), além do secretário adjunto de Segurança, Defesa e Cidadania (Sesdec), Hélio Gomes, do superintendente da Juventude, Cultura, Esportes e Lazer (Sejucel), Jobson Bandeira, do coordenador de Turismo da Setur, Saulo Giordano, da capitã PM Michele, representando o Comando Geral da Polícia Militar, o major Iranildo Dias, representando o Comando Geral do Corpo de Bombeiros e do presidente da Federação de Grupos Folclóricos de Rondônia (Federon), Fernando Rocha. 

Na abertura, o deputado proponente disse que "é a minha primeira audiência pública e decidimos realizá-la para que possamos construir juntos um caminho, uma agenda positiva para o evento. Temos experiências boas e ruins no passado, mas não queremos lavar roupa suja. Que possamos sair daqui com uma contribuição para a identidade para o Flor do Maracujá, que não pode ser jogada para um lugar e para outro, para uma data que muda a cada ano. Isso está empobrecendo a festa. 

Jair Montes lamentou o fim da festa agropecuária da Capital. "Também registro a necessidade de se resgatar o Duelo da Fronteira, em Guajará-Mirim, que enfrentou uma série de dificuldades e se acabou. O governador Marcos Rocha (PSL) tem o desafio de resgatar de fato a cultura, de forma organizada, onde o Governo é parceiro e a iniciativa privada começa a investir", afirmou. 

Eyder Brasil declarou que é preciso debater e fazer encaminhamentos. "Que possamos tratar aqui de questões que contribuam para que seja realizada a maior e melhor edição do Arraial Flor do Maracujá de todos os tempos". 

Segundo Brasil, "destinei uma emenda de R$ 160 mil para apoiar o Flor do Maracujá e é preciso sentarmos e resolver o impasse. Chegando à 38ª edição, o Flor do Maracujá não tem ainda um espaço adequado, recursos garantidos e planejamento. A Sejucel está de parabéns por ter tomado essa iniciativa e destaco a ação da Federon e das agremiações, mantendo a nossa cultura". 

Para o deputado, que é líder do Governo na Assembleia, "somente com o envolvimento de todos é que a nossa festa vai crescer. A cultura do meu Estado, da minha cidade, é importante para mim". 

Marcelo Cruz se pronunciou, pedindo harmonia por parte dos envolvidos na realização da festa. "O Flor do Maracujá virou uma referência na região. Precisamos de sensibilidade, de parte a parte. Festa com brigas, não dá certo. Que possamos chegar a um meio termo e me coloco à disposição para contribuir". 

Montes retomou a palavra e lembrou que onde hoje está erguida a Assembleia Legislativa, já sediou o Flor do Maracujá. "Eram outros tempos, mas me parece que a cultura era ainda mais forte. Temos duas usinas hidrelétricas, que nos deixaram apenas problemas, mas não nos apoiaram de fato. Precisamos criar um novo jeito de fazer os grandes eventos de Rondônia. O Flor do Maracujá não é de Governo ou Assembleia, mas de quem trabalha com a nossa cultura". 

Palestra 

Em seguida, o professor da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Marcos Teixeira, apresentou um breve estudo, com o tema "Arraial Flor do Maracujá, um patrimônio a ser preservado". Segundo ele, "temos assistido um desmanche das festas populares, que estão sendo perdidos por uma série de fatores. Minha saudação e meu respeito aos diretores de agremiações e a Federon, que mantém o trabalho de forma ativa, mesmo com o Flor do Maracujá enfrentando a maior crise". 

Para o professor, o Arraial é a festa popular em sua essência, "pois é feito pelas periferias, leva a população de fato e envolve toda a cidade, com danças, comidas, músicas e outras manifestações. O Boi de Parintins é o sucesso que é, pois se enxergou cultura naquilo, e uma oportunidade de negócios também, com o Governo entrando na festa e ela se consolidando". 

Teixeira apontou que as apresentações são o ponto alto das quadrilhas e bois-bumbás, mas eles trabalham o ano inteiro, com ensaios e ações para assegurar as exibições. "Os jovens ensaiam por meses, fazem uma série de ações para arrecadar recursos para manter as agremiações de pé. Nesse sentido, também registro que a Federon é o muro de proteção da nossa cultura popular, pois sem ela a festa não mais se realizaria", completou. 

De acordo com o professor, "o Flor do Maracujá movimenta mais de 100 mil pessoas, entre brincantes, barraqueiros, ambulantes, artesãos, costureiras, entre outras funções. 

Debates 

Fernando Rocha ressaltou que "sem artistas, não tem espetáculo. Há quase dois meses, fomos chamados pela Sejucel para discutir o Arraial. Mas, nãos queremos apenas nos apresentar, queremos concorrer. Não estamos lutando por dinheiro, que inclusive é impedido de ser repassado, mas queremos que a estrutura seja assegurada e que a Federon seja respeitada". 

Segundo ele, a Federon fez duas propostas para a Sejucel. "Na primeira foi sugerido que o Governo garantisse o palco e buscasse patrocínio de empresas privadas. Foram disponibilizados R$ 513 mil para a estrutura da festa, mas como vamos assegurar a remuneração para apoiar os grupos?". 

A segunda proposta é que o Arraial seja feito em parceria entre a Federon e os barraqueiros e ambulantes. "Ou, arrumem patrocínios e nos paguem o cachê, para que possamos custear a confecção das vestimentas e outros gastos". 

O presidente da Federon disse que é preciso custear altas cargas tributárias e taxas como seguros, adequação ao código de postura, multas da Semfaz, taxa de estacionamentos, bombeiro civil, segurança privada, taxas de engenharia, empresa de energia e outras. "O Estado poderia isentar de alguns tributos, que iria diminuir os custos, que somam mais de R$ 100 mil em taxas". 

O representante do Corpo de Bombeiros reconheceu o custo, previsto em lei, mas ressaltou o trabalho para garantir a segurança de brincantes e espectadores. "Temos que zelar pela segurança das estruturas, para que tudo transcorra bem. Estamos dispostos a discutir e a trabalhar em conjunto, para esta grande festa popular de Rondônia". 

A major Michele informou que a PM tem uma série de ações e que está na fase de planejamento, para garantir o policiamento nos dez dias de evento. "A PM sempre tem atuação nessas festas populares e estará contribuindo para a paz social também". 

O coordenador de Turismo, avaliou que Porto Velho sofreu com o "boom das usinas" e passou por outros ciclos. "Sonho que chegue o momento do 'boom do turismo' em Rondônia. Evento precisa de apoio e de patrocínio. Na Setur, recebemos uma proposta de um empresário que disponibilizou uma área, ao lado do Shopping, para que pudesse ser usada para as apresentações". 

Sejucel 

O superintendente da Sejucel iniciou sua fala dizendo que "é preciso mudanças. Uma das principais é evitar que os preços cobrados pelos produtos sejam abusivos. Não vamos cobrar dos ambulantes e barraqueiros, para que a nossa população não seja penalizada com preços altos. A festa é pública e precisa ter esse cuidado". 

Segundo ele, "o Estado entra em contrapartida com a segurança pública, por exemplo. Nós estamos juntos, pois juntos somos mais fortes. O que podemos fazer para melhorar? Contratamos uma empresa que vai garantir um lanche para os brincantes, durante o Flor do Maracujá. Também contratamos ônibus para o transporte". 

Jobson Bandeira anunciou o lançamento oficial do Flor do Maracujá, no Porto Velho Shopping, no próximo dia 2. "Só vamos falar no Flor do Maracujá nos próximos dias. Estamos com uma demanda de R$ 263 mil para o patrocínio, para pagar músicos, bandas, entre outros profissionais. É o que falta e se os deputados puderem nos ajudar, serão muito bem-vindos". 

A Caixa Econômica está analisando um projeto, para apoiar o evento. "Temos asseguradas emendas do deputado estadual Eyder Brasil (PSL), no valor de R$ 160 mil, e mais R$ 200 mil da deputada federal Mariana Carvalho (PSDB) para a festa", informou Jobson. 

Marcelo Cruz questionou se, caso não consiga esse patrocínio, como vai ficar a realização do evento. Ele também sugeriu que houvesse um cuidado contra abusos nos preços praticados. "Me dirigi até a Casa Civil e manifestei a necessidade desse recurso. Há a possibilidade de novo patrocínio, via Federon, mas estamos esperando resposta de empresas", disse o chefe da Sejucel. 

Jair Montes quis saber como eram os processos nos últimos anos. "Estamos fazendo mais do que era feito, com a estrutura. Vamos avançar em muitos aspectos". 

Ao retomar a palavra, Montes atribuiu à pasta da Sejucel, os problemas. "Antes de mudar a forma de organização da festa, deveria ter dado continuidade ao que está sendo feito, de forma satisfatória e não mudar tudo de imediato. E outra coisa, estamos em cima do Arraial e o superintendente anuncia que ainda está buscando o patrocínio. Isso deveria estar acertado", alertou. 

Ele disse ainda que, "estamos aqui para ajudar, mas não é feio voltar atrás. Repense essa forma de atuação, pois corre o risco de não ter quadrilhas se apresentando". 

Jobson disse que não tem medo de desafios e que, o que depende dele, está sendo feito. "A estrutura está pronta e assegurada, que a Federon organize as agremiações e se junte a nós nessa busca por patrocínio. O que tinha para o Flor do Maracujá eram apenas R$ 200 mil e já avançamos muito". 

Novamente, Jair Montes interveio para sugerir que fosse feita uma Comissão, composta pela Sejucel e Federon, com participação dos deputados, para discutir e brigar pelo patrocínio principal, sendo acatada pelos envolvidos. Uma reunião prévia da Comissão foi agenda para a manhã da próxima segunda-feira (27), na sede da Federon. 

Mais uma vez, Marcelo Cruz observou que há um risco de não ter a apresentação de grupos no Flor do Maracujá. "Isso precisa ser encarado, pois sem os grupos, não existe o Arraial, e a cultura perde, os barraqueiros e ambulantes perdem, todos perdem. Vou buscar o prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves (PSDB), para que ele interceda junto à empresa Marquise, para a liberação de apoio". 

A Federon deu um prazo até o próximo dia 25, para a confirmação do patrocínio, pois se não houver esse tempo hábil, não seria suficiente para as ações. 

Agremiações 

Os representantes das agremiações expuseram os desafios e as dificuldades que enfrentam, com sugestões e críticas. 

Rodrigo Cerdeira, da agremiação Mocidade Junina, foi o primeiro a expressar sua opinião. "A cultura, o folclore é tudo aquilo que o homem produz, por si só. Não dá para entender a falta de apoio para que possamos realizar esse Arraial. Que possamos ter a participação de representantes das agremiações nessa organização. Por outro lado, queremos alertar que o que produzimos aqui é a nossa identidade, sendo assim, não tem sentido trazer julgadores de fora da nossa região", disse. 

Roberto Matias, da Rosa Divina, garantiu que o segmento cultural não quer retirar dinheiro da saúde, educação ou segurança, para garantir que a cultura sobreviva. "Nós fazemos bingos, fazemos mobilizações para arrecadar dinheiro e garantir a nossa apresentação. Mas, queremos apoio para a cultura sim, como nos assegura a Constituição, pois cultura gera emprego, gera renda e gera identidade cultural", observou. 

Francisco Clodoaldo, conhecido como Negaça, que integra a coordenação do Arraial Flor do Cacto, disse que "não é fácil fazer cultura. Destaco a parceria dos barraqueiros e ambulantes, na realização do Flor do Cacto. É muito custoso e trabalhoso para as agremiações, chegar até o Flor do Maracujá. Se não houver uma união dos grupos, vamos nos enfraquecer e podemos acabar, como outras manifestações culturais". 

O vice-presidente da Federon, Aluízio Guedes, observou que "faço partes das raízes do Arraial. Mas, quero deixar duas palavras: tradição e modernidade. A tradição é fruto da aceitação popular, do coração do povo. A modernidade, é um tempero, que precisamos usar com cuidado. Por isso, é preciso ter cuidado nessa mistura de tradição e modernidade. O Flor do Maracujá foi o palco criado para que grupos, que se apresentavam em escolas, tivessem espaço adequado".

Guedes declarou que os arraiais dos bairros foram fortalecidos, com mais espaços para a cultura popular como um todo. "É bom ainda registrar que cultura não dá despesa, pelo contrário, dá emprego e renda. E a cultura não tem dono, deve ser gerenciada por todos e por isso é importante a união dos grupos". 

O jornalista Sílvio Santos, ativista da cultura popular, iniciou a sua fala defendendo os bois-bumbás. "Que nossos bois-bumbás tenham força, tenham mais espaços e apoio. E outra coisa, a Federon tem legitimidade e tem sido vítima de boataria, tentando denegrir seu trabalho. A coordenação do Arraial pela Federon foi construída junto ao Ministério Público, mas cabe ao Governo assegurar a estrutura necessária para a festa, mas os grupos precisam buscar seu recurso para se apresentar", relatou. 

Segundo Sílvio, "é com o recurso obtido com os barraqueiros que é feita a festa, pois esse dinheiro vai para a Federon, mas querem retirar esse direito da entidade. Como os grupos vão se apresentar sem receber cachê? Sem cachê, não tem apresentação". 

Encerramento 

Ao finalizar a audiência pública, o deputado Jair Montes disse que "espero que esse debate surte efeitos positivos e estaremos juntos nesta Comissão Mista, para que possamos encontrar o melhor caminho para a nossa cultura".

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